“Procuro não ter um gênero sonoro, não estipulo tags classificando minhas músicas. Atualmente, faço beats de trap pelo simples fato de que acho legal, quando enjoar tomarei outros rumos. Acho que não há como classificar o projeto "Forget Me" pois ele absorve muito das minhas experiências do momento. Ultimamente tenho até me aventurado em sons que possuem ritmo mais latinos, como cúmbia. Minhas produções carregam também o "rolê internet", desde o vaporwave (que na minha opinião não se caracteriza num gênero musical, mas sim num gênero estético) até referências como a mexicana NAAFI Records, com suas “texturas” e forte influência "noise", passando por outros rolês como o da Suécia, de artistas de sons mais reverberados como Karman, Haydn e Yung Gud. Enfim, levo tudo isso como influencia na composição de minhas produções."
Renato Matos,
Forget Me.
soundcloud.com/forgetme2015
"Talvez a grande contribuição de Renato Matos para a música de forma geral tenha sido a implementação da noção de que as músicas de pista podem levar a certa reflexão da condição de jovem no século 21. Ou seja, o jovem que gosta de ouvir uma música e dançar com seus amigos, mas de certa forma está também fazendo aquilo como uma forma de escapismo da sua realidade, daquilo que o cerca. Melhor: é tudo sobre música jovem como escapismo de uma situação que não é favorável e que por vezes pode se tornar também meio cruel, pois as decisões desse jovem devem ser tomadas com certa agilidade, com certa idade estabelecida que esse jovem não tem condições psicológicas de suportar aquela carga pesada que foi imposta em cima dele. Dessa forma, é a junção de uma vontade de se jogar no mundo num sentido muito simplória, de viver as experiências que você pode ter com as pessoas que você ama e viver uma vida realmente agradável, ao passo em que a contradição que vem da família, que você deve fazer tais coisas, que nem sempre são o que o jovem almeja para si, mas que ele sabe que tem certas responsabilidades familiares com aquilo que lhe é imposto. Busca-se, não obstante, fomentar a possibilidade de prover uma condição de vida melhor para si para consequentemente prover o melhor para sua família. É um certo antagonismo que ocorre na obra de Renato Matos, isto é, uma vontade do jovem se desregrar das condições que o cerca e uma forma de escapar de um destino já traçado, mas ao mesmo tempo ele percebe que esse destino traçado é meio que inevitável e a única voz possível a esse jovem é a que provém da arte e das possibilidades de vida criadas pelos laços afetivos, do compartilhamento de experiências daquilo que se sente em festas, as quais hoje talvez sejam o meio de aglomeração principal de jovens do século 21. Se fortalecer o sistema das artes é necessário para não morrer tão jovem, se o sonho de um país contemporâneo, com instituições estabelecidas e uma realidade ao menos suportável fosse possível Forget Me talvez nem existiria. Este é um projeto sobre alguém que não teria saída, que está entregue ao seu tempo e ao contexto global, mas também a especificidade da experiência periférica da contemporaneidade (se esta entendermos como um período de democracia real, de instituições estabelecidas para todos). É reconhecendo tal farsa na especificidade brasileira dentro do andamento global que Forget Me traça sua narrativa sob o olhar de um jovem que quer "chegar lá" em um contexto periférico ao de suas referências."
Roger Farias,
Dramão Jovem Mixtapes.